JAIME
Portugal | 1974 | 35 mm | Cor | 35’
Realização: António Reis

Sinopse
O mundo, a vida e o trabalho de Jaime Fernandes, camponês nascido em Barco (beira baixa), atingido por doença mental (esquizofrenia paranóica). Aos 38 anos de idade, internado no Hospital Miguel Bombarda (Lisboa), ali morreu em 1967, com 69 anos. Aos 65 anos, começara a pintar e, durante esse curto período de tempo, realizou uma obra pictórica genial, influência do meio social e hospitalar.

 

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SOBRE “JAIME”, DE ANTÓNIO REIS

O “Jaime” foi dos filmes portugueses que mais me marcou, não só pela obra pictórica do universo de Jaime, a figura central do filme, mas sobretudo pelo clima emocional que o filme de António Reis estabelece e propõe: uma cumplicidade imediata com uma estrutura narrativa de grande simplicidade, António Reis começa por revelar, com um olhar escondido, câmara dissimulada, o espaço circular ocupado pelos doentes; uma espécie de arena de onde não se sai, que cerca, uma prisão habitada pelas sombras de homens perdidos dentro de si, perdidos no seu tempo interior, para nos apresentar de seguida a representação do universo pictórico de Jaime, os seus desenhos, os seus textos.

Numa espécie de visita guiada que faz à aldeia onde Jaime nasceu, António Reis expõe, com um grande sentido visual e poético, as analogias referenciais das texturas gráficas de Jaime, ao mesmo tempo que nos revela o seu contexto primordial, o habitat onde Jaime viveu desde a sua infância.

Mas “Jaime” o filme, está para além da presença fantasmática de Jaime, na forma como se desdobra em alter-ego para abordar o imaginário surreal de Jaime, na procura do traço que vai dar forma final à composição, como objecto de interpretação da natureza, da pulsação da vida, da morte.

Estamos perante uma obra singular em que os níveis de exposição se fazem a dois tempos, um o de António Reis, uma apreensão/projecção dos materiais da exteriorização expressiva de Jaime, e o de Jaime Fernandes, que “usa” o espaço do filme de Reis para, num tempo de contracção, desvelar a complexidade do seu caos interior no que ele tem de original, único.

Ele pode encher uma grande superfície de negro e vermelho e depois mete uma dissonância de violeta. Ora, isto só está ao alcance dos grandes artistas e é um acto de consciência pictórica.

“Jaime” é um filme de uma unidade pictórica deslumbrante, obra poética de António Reis que se reúne em paralelo e se funde com a de Jaime, tornando-se em si mesmo obra de Arte, único.

José nascimento, Outubro de 2011